64ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 1. Antropologia - 8. Antropologia
CACS: AUTOGESTIONÁRIO, INDEPENDENTE & O CACETE
Wander Wilson Chaves Júnior 1
Dorothea Voegeli Passetti 1,2
1. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
2. Profa. Dra./ Orientadora – Depto. de Antropologia
INTRODUÇÃO:
Esta Pesquisa teve como objetivo abordar a experiência autogestionária do Centro Acadêmico de Ciências Sociais (CACS) da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) durante o período de 1983 a 1992. Tratou-se de observar as diferenças deste tipo de movimento estudantil em relação àquele que ocorria tradicionalmente desde a década de 1970.
A singularidade deste período encontra-se na realização de uma quebra de sintaxe na rigidez formal do movimento estudantil, ligado a centralidades, hierarquizações e entrelaçado aos partidos políticos. Foi a afirmação de uma prática vinculada à história dos anarquismos que resultou na elaboração de uma nova política juntamente como a elaboração de novos costumes. Um desdobramento das experiências de maio de 68 e das vanguardas artísticas do início do século XX.
Esta pesquisa se desenvolveu em conjunto com o Museu da Cultura da PUC-SP, reunindo materiais esparsos para integrar a coleção da história da Faculdade de Ciências Sociais. Foram coletados diversas fotos, boletins, vídeos e arquivos de áudio que foram doados ao Museu e fizeram parte da exposição “cacs: autogestionário, independente e o cacete”. A lista de material da exposição pode ser consultada em http://www4.pucsp.br/museudacultura/agenda/cacs.html
METODOLOGIA:
Foi realizado um levantamento bibliográfico a respeito dos temas movimento estudantil e autogestão, em conjunto com uma pesquisa bibliográfica sobre o referencial analítico adotado. Uma pesquisa documental nos arquivos do CACS, Museu da Cultura (MC), Centro de Documentação e Informação Científica “Prof. Casemiro dos Reis Filho” (CEDIC) e Biblioteca Nadir Gouvêa Kfouri (PUC-SP). Também foram coletadas entrevistas com estudantes, um funcionário da época e com o então diretor da Faculdade de Ciências Sociais.
A análise do material recolhido foi realizada por meio de uma análise genealógica da história, inspirada em Michel Foucault. Consiste em recusar a busca de uma origem, de uma essência perdida na história ou uma projeção teleológica para o futuro, mas observar o que existe de agudo em um acontecimento atravessado pela tensão das suas forças. Este trabalho também se desenvolveu a partir das noções de estética da existência e heterotopia, de Michel Foucault, e subjetividade e singularização, de Félix Guattari.
RESULTADOS:
A experiência autogestionária do CACS da PUC-SP colocou em tensão aquilo que era referente ao seu tempo, inventando espacialidades inéditas e o que mais coubesse na incandescência do instante. Invadiram reitorias, desafiaram Erasmo Dias, a censura, o monopólio da comunicação e onde sobrassem respingos de autoritarismos. Fizeram com que o Centro Acadêmico diluísse os limites da grade curricular e as convencionais normas institucionais.
Nada de renúncia de si aguardando a utopia futura depois da revolução universal do proletariado. Nem a comodidade democrática que se anunciava. A revolução deveria ser o efeito do presente, se deslocando de um tempo futuro para uma prática cotidiana. Era a elaboração de uma vida singular, indisciplinar e desobediente, que se desdobrou em práticas anarquistas realizadas por estes jovens estudantes.
Inventavam formas de problematizar o presente a partir de atitudes corajosas que vertiam humor – uma ruptura com uma militância sisuda. Em 1987 invadiram o gabinete de Erasmo Dias e retribuíram as bombas lançadas na PUC-SP em 1977 com bombas de chocolate, coroas de flor e pencas de bananas. Também construíram a primeira rádio livre da cidade de São Paulo.
Foi uma experiência que vinculou a negação de práticas autoritárias a uma afirmação de vida no presente.
CONCLUSÃO:
A autogestão do CACS marcou profundamente a universidade na qual estava inserida. Atuou na reformulação do curso de ciências sociais em conjunto com alguns professores, proporcionando a entrada do estudo de problematizações políticas ligadas ao pensamento de Michel Foucault e dos anarquismos na grade curricular. Repercutiu na formação de núcleos de pesquisa, de encontros anarquistas e na construção de uma revista libertária. Também deixou marcas nas palavras que se usam no dia a dia da universidade ao se referir aos diversos espaços.
Incendiou a universidade propondo uma nova forma de vincular política e vida. Marcou cada pessoa que passou por ali, transformando a vida na elaboração de um ethos diferenciado, que ecoou em cada um de maneira singular. Desdobrou-se em outras formas de fazer que produziram certa subjetividade-anárquica, secretando novos campos de referência para a universidade.
Palavras-chave: movimento estudantil, autogestão, estética da existência.