64ª Reunião Anual da SBPC |
F. Ciências Sociais Aplicadas - 13. Serviço Social - 2. Serviço Social da Criança e do Adolescente |
A VIDA APÓS A DESINTERNAÇÃO? SONHOS, MEDOS E O QUE SE APRESENTA COMO POSSIBILIDADE. |
Rosemary Galves 1 Luziana Ramalho Ribeiro 2 |
1. Depto. de Serviço Social, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa/PB 2. Profa. Dra./Orientadora – Depto. de Serviço Social – UFPB |
INTRODUÇÃO: |
A violência é um fenômeno crescente mundialmente, fruto das refrações da questão social, recorrente da exploração capitalista, assim, a má distribuição de renda e a baixa escolaridade impõe difíceis soluções ao quadro apresentado. O Brasil é um país que apresenta um quadro socioeconômico e educacional desfavorável, refletindo-se no aumento dos índices de violência, Na Paraíba, temos um acirramento entre o final do século vinte e contemporaneamente, dos problemas sociais, aumentando consideravelmente a relação entre violência e juventude, e os crimes praticados contra e por ela. Desse modo, tornam-se prementes pesquisas que contribuam para uma melhor compreensão desta temática, principalmente no tocante aos adolescentes em conflito com a lei. O CEA reflete esta nova problemática social, pois é onde é aplicada a medida socioeducativa de internação. Portanto, ao analisarmos as reais possibilidades de inclusão dos adolescentes egressos do CEA, e as suas expectativas sobre o processo de reinserção no tocante aos medos, sonhos e possibilidades, descortinamos um alargamento da compreensão sobre o difícil processo de inserção, e as reais possibilidades de efetivação de políticas sociais que lidam com essa questão. |
METODOLOGIA: |
A pesquisa foi desenvolvida de modo quanti-qualitativa. Realizamos estudo de campo através da aplicação de entrevista estruturada e semi-estruturada, simultaneamente à pesquisa bibliográfica. Utilizamos também formulário para a consulta de dados provenientes de um levantamento executado junto aos prontuários dos adolescentes que se encontravam cumprindo medida socioeducativa. Para a execução e viabilização da entrevista semi-estruturada, foi utilizado um gravador digital, com posterior transcrição e análise do material coletado, não fazendo uso de nenhum meio de gravação de imagens. Os dados foram tratados de acordo com Bardin (1977) e as entrevistas tiveram a anuência dos informantes, conforme Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. O universo constou dos 137 internos no Centro Educacional de Adolescentes, localizado na Rua Professor José Coelho, n. 30, no Bairro de Mangabeira em João Pessoa-PB. A amostra, de acordo com os objetivos preconizados por esta pesquisa, privilegiou os adolescentes que se encontravam mais próximos ao processo de desinternação, logo, foram entrevistados 18. |
RESULTADOS: |
Durante a realização da pesquisa, encontravam-se sete adolescentes em processo de descumprimento de medida e oitenta e quatro adolescentes cumprindo medida de internação. Os adolescentes entrevistados tinham idades oscilando entre quinze e dezessete anos. A renda familiar dos casos estudados fica acima de trezentos reais, e quinze famílias eram beneficiárias do Programa Bolsa Família. Sete entre os dezoitos adolescentes estudaram somente o fundamental completo/incompleto e, dez já haviam trabalhado anteriormente. Sobre os atos infracionais cometidos, esses oscilaram entre assalto, roubo e homicídio. A presença familiar representa grande importância na rotina da internação. Portanto, todos os entrevistados relataram que podem contar com seu apoio no momento da saída. A desinternação é um rito de passagem que suscita preocupação aos internos, oscilando entre o medo de não encontrar emprego com facilidade, por não estarem devidamente preparados e o futuro encontro com possíveis desafetos. O sonho de mudança encontra-se presente, pois eles relatam que não desejam vivenciar a experiência da internação novamente. |
CONCLUSÃO: |
Os adolescentes apresentam reações ligadas ao medo e insegurança, quando de sua chegada à Instituição. Representaram uma postura de “falsa adesão” com o disciplinamento presente, embora, reclamassem sobre problemas eventuais de seu dia a dia, tais como: o relacionamento com os inspetores de segurança, a comida e a falta de atividades pedagógicas. Demonstraram interesse em participar das oficinas realizadas, avaliando-as positivamente. A preocupação com a reinserção societária é um aspecto presente em suas vidas, desse modo, o apoio familiar mostra-se de extrema importância. São otimistas em relação ao futuro, têm desejo de mudança, que se daria através de um emprego e a construção de uma família. Pretendem exercer atividades laborais legais, demonstrando interesse em não vivenciar novamente a experiência da internação. Também se mostram inseguros quanto à desinternação, com medo do futuro, sentindo-se despreparados, quadro este que poderia ser revertido se ocorresse uma melhor adequação das possibilidades de inserção promovidas pelo Estado e/ou parcerias com a iniciativa privada. Enfim, entendemos que há três ritos de passagem no processo de internação, a chegada-inclusão; adequação às normas e a emergência da saída que gera medo e ansiedade. |
Palavras-chave: Adolescentes, Reinserção, Possibilidades. |