64ª Reunião Anual da SBPC |
H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Linguística - 1. Linguística Aplicada |
Linguajamentos e contra hegemonias epistêmicas sobre linguagem em produções escritas indígenas da Licenciatura Intercultural Indígena da UFG |
Elismênnia Aparecida Oliveira 1 Joana Plaza Pinto 2 |
1. Graduanda Da Faculdade de Ciências Sociais - UFG 2. Profa. Dra.Orientadora - Departamento de Letras - UFG |
INTRODUÇÃO: |
Esse trabalho é continuação de uma pesquisa iniciada em 2009, e tem por objetivos a busca, análise e síntese de produções escritas em português por indígenas no Brasil, que tenham por tema linguagem e suas derivações. Nesse sentido temos por objetivos: 1) promover uma reflexão crítica sobre as produções de conhecimentos indígenas sobre linguagem, discurso e suas derivações (fala, escrita, língua etc.); 2) considerar o papel da colonialidade do poder/saber na produção epistêmica sobre linguagem em confronto com a produção indígena; 3) visibilizar as concepções dessas produções no debate sobre linguagem para ampliar noções sobre práticas discursivas. Com a proposta geral de questionar “que concepções de linguagem podem ser evidenciadas quando ouvimos/lemos as produções indígenas como construídas por sujeitos de conhecimento linguístico?”, nosso trabalho é importante em termos de questionar a construção de uso de línguas para práticas de subalternização e resistência de grupos. |
METODOLOGIA: |
Para realizar o trabalho nos pautamos em uma metodologia de busca e análise qualitativa de base documental. Adotamos os seguintes procedimentos metodológicos: 1) revisão de literatura sobre concepções de linguagem, corpo, identidades, indígenas; 2) mapeamento das produções de graduandas e graduandos da Licenciatura Intercultural Indígena da UFG, que tivessem por tema linguagem e suas derivações – língua, escrita, discurso e fala; 3) descrição das concepções de linguagem nas produções; 4) descrição das condições em que essas descrições foram realizadas e 5) análise das conclusões das etapas 3) e 4) contrapostas aos textos selecionados e aos objetivos do plano de trabalho. Na etapa de mapeamento, contamos com a colaboração de docentes do Núcleo Takynahakã que disponibilizaram um vasto material de temas contextuais do Português Intercultural. Analisamos e escolhemos dentre produções arquivadas à produções realizadas na 1ª etapa de 2011. Finalizada a etapa de mapeamento, selecionamos 200 produções textuais entre resumos, resenhas, ensaios, e respostas a questionários, feitos por graduandas e graduandos das 13 etnias, de diferentes idades e semestres da graduação da Licenciatura Intercutural Indígena, que foram analisados de acordo com nossos objetivos. |
RESULTADOS: |
As graduandas e graduandos são bilíngues e a princípio as línguas portuguesa e indígenas tem os mesmos usos e funções. A língua portuguesa como segunda língua , uma língua de contato, é usada para se comunicar com indígenas e não indígenas, um instrumento usado para defender e lutar por direitos como terra, saúde e educação. A língua portuguesa é vista como a línguas das oportunidades por ser capaz de oferecer melhoria de vida, “é a língua que proporciona melhores empregos na cidade e acesso a faculdades”. A língua indígena também é tratada como língua da comunicação, da resistência, e de garantia de direitos. Comunicação com aqueles que falam e contra os que não falam (Arakae TAPIRAPÉ, 2010), resistência e luta por direitos conseguidos a partir da auto-identificação, o reconhecimento público e vínculo com identidade, cultura e produção de conhecimento. A princípio as línguas portuguesa e indígena parecem ter as mesmas funções e mesmas possibilidades de uso. No entanto, percebemos que existem diferentes concepções de línguas: para cada língua existe um conceito de língua. Há um conceito de língua no uso da expressão “língua portuguesa” que não corresponde ao conceito de língua para a expressão“língua indígena”. |
CONCLUSÃO: |
Existe uma relação entre língua / linguagem e produção de conhecimento indígena, língua e representação, que acontece de maneira efetiva, a princípio, somente na língua indígena, sendo a linguagem uma construção conjunta entre pessoas e natureza. Assim a língua indígena é uma língua de contexto, algumas palavras precisam de um tempo-espaço e até pessoas,as anciãs e anciões, para serem transmitidos, de forma que as palavras na língua indígena estão vinculadas à oralidade. As palavras são conhecimentos que precisam de um tempo-espaço, uma contextualização que não indica só pertencimento e localização, indicam ensino e vivência. Linguagem como um conceito amplo; se “perde a fala, não perde a língua”. As práticas discursivas são consideradas em conjunto as práticas de conhecimento. Na concepção de linguagem e língua a partir da língua indígena, e também dos usos da língua portuguesa, as concepções sobre linguagem são pensadas como linguajamento; língua e escrita são estratégias para orientar e manipular os domínios sociais da interação. E assim, a linguagem é pensada antes das hierarquizações. |
Palavras-chave: Indígenas, Epistemologias, Colonialidade. |