64ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 4. Geografia - 1. Geografia Humana
HETEROTOPIAS DO HOMOSSEXUALISMO NA FRONTERA
Iatiçara Oliveira da Silva 1
Wendell Teles de Lima 1
Marclene Muniz 1
Francilene dos Santos Cruz 1
Artemízia Rodrigues Sabino 1
Rocilange Salles Cabral 1
1. Centro de Estudos Superiores de Tabatinga/Universidade do Estado do Amazonas
INTRODUÇÃO:
Nossas percepções do mundo são articuladas pela grade de nossas apresentações, que instalam valores e significações: o que talvez precisassem é uma “ortopedia” da imagem do humano para além do assujeitamento das narrativas fundadoras, narrativas que criaram um esquema de relações binárias ao longo de 40.000 anos de história humana (FOUCAULT, 1967: 40).
A concepção de hetorotopia traduz uma nova forma de entendimento da formação espacial pela subjetividade, ação, projeção, perspectiva, inovação e libertação colocando o ser como agente ativo da constituição de sua espacialidade através das ações do seu dia-a-dia.
Dentro desse segmento encontramos a homossexualidade que, demonstrada numa perspectiva foocoltiana, denota claramente a importância dos espaços heterotopicos na compreensão da tecitura das relações sociais na constituição da espacialidade geográfica. A noção de heterotopia, com efeito, se realiza efetivamente na experiência dos homossexuais, que têm em sua realidade singular as possibilidades de ultrapassá-las, criando novas significações/valores e representações sociais do humano além dos moldes binários.
Nesse sentido, nosso estudo se propôs a estudar o espaços de construções das auto-imagens homossexuais de indivíduos residentes em duas cidades de fronteira, Benjamin Constant e Tabatinga, Amazonas.
METODOLOGIA:
Nossa metodologia foi pautada na observação das práticas do espaço da homossexualidade, na identificação desses espaços, tipo de trabalho e convivência social desses indivíduos nos municípios de Benjamin Constant (fronteira do Brasil com o Peru) e Tabatinga (fronteira do Brasil com a Colômbia e o Peru), ambos no estado do Amazonas. Atividade fundamental na construção do diálogo e na aplicação de questionários abertos que nos permitiram acessar informações fundamentais como: nacionalidade, atividade profissional, prática de esportes, realidade socioeconômica, convivência familiar, dentre outras.
RESULTADOS:
Dos 50 homossexuais entrevistados, identificamos 14 peruanos, 12 colombianos (08 homens e 04 mulheres), 13 brasileiras e 11 brasileiros. Em Benjamin Constant, foram identificados 20 homossexuais masculinos assumidos, 03 lésbicas assumidas e 05 homossexuais masculinos não-assumidos. Em Tabatinga, foram identificados 12 homossexuais masculinos assumidos, 03 lésbicas assumidas, 02 homossexuais não-assumidos e 05 lésbicas não-assumidas.
Dentre os homossexuais masculinos, 17 afirmaram exercer a profissão de cabeleireiros, 07 a de manicure, 03 a de Professor, 03 estudantes, 02 funcionários públicos e 01 era dependente dos pais. Dentre os femininos, 04 afirmaram exercer a profissão de cabeleireiras, 03 Professoras, 04 estudantes, 03 funcionárias públicas e 03 dependentes dos pais.
Vinte e oito homossexuais masculinos ajudam a família com seu trabalho, 07 não ajudam. Dentre as mulheres, 10 ajudam os familiares e 05 não. Treze homossexuais masculinos consideram maior gasto mensal, acessórios para o trabalho, 12 a alimentação e 08 o vestuário. Entre as lésbicas, 07 consideram a alimentação com maior peso orçamentário, 04 os acessórios de trabalho e 04 vestuário.
CONCLUSÃO:
Chama-nos atenção que 52% dos homossexuais entrevistados nessas cidades sejam estrangeiros (colombianos ou peruanos), refletindo um aspecto facilmente observável nas ruas de ambas cidades. Reanalisando as entrevistas, este contigente foi o que relatou maior rejeição por parte de familiares e amigos. Quando perguntados por que se fixaram nessas cidades declararam que vieram a convite de amigos e encontraram melhores condições de vida e trabalho
Além do ambiente de trabalho, um outro espaço heterotópico importante para essa população é a prática de esporte, que denotou ser um importante fator convivência social e de interação, tanto entre homossexuais quanto homossexuais-heterossexuais. Dentre os homossexuais masculinos, 13 têm o voleibol como prática esportiva regular, 04 o handball, 09 o futsal e 07 não praticam esporte. Dentre as meninas, 07 jogam futsal, 07 handball, 02 voleibol, e 01 não pratica esporte.
Os espaços heterotopicos têm função de subjetividade e representatividade e serem partes constituintes da instância social. Notamos que nos espaços observados a identificação sexual era o fator agregador independente da nacionalidade, talvez explicado pelo fato de 81% dos homossexuais masculinos afirmarem ainda enfrentar algum tipo de preconceito e discriminação, contra 09% que afirmam não enfrentar nenhum tipo de preconceito. Todas as meninas afirmam enfrentar preconceito e discriminação.
Palavras-chave: HETEROTOPIAS, HOMOSSEXUALISMO, FRONTEIRA.