64ª Reunião Anual da SBPC |
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 4. Educação Básica |
LETRAMENTO E INTERDISCIPLINARIDADE: A SALA DE AULA COMO FÓRUM DE QUESTÕES DE CIDADANIA |
José Batista de Barros 1 Adriana Letícia Torres da Rosa 2 |
1. Professor, mestrando, Prefeitura Municipal de Olinda – PMO 2. Profa. Dra./Orientadora – Centro de Educação – Colégio de Aplicação – UFPE |
INTRODUÇÃO: |
Esse relato de experiência versa sobre um projeto pedagógico desenvolvido numa escola pública, com alunos do 5º ano do ensino fundamental. Teve como propósito desenvolver ações de letramento numa perspectiva interdisciplinar, com vistas a promover o exercício da cidadania. Com base no estudo de temas associados - vida em comunidade, função social da escola, meio ambiente (poluição; educação para o trânsito) -, trabalhamos com as competências de leitura e escrita de variados gêneros textuais como subsídio para levar os alunos aprofundar a sua leitura de mundo, na visão de Paulo Freire, bem como ter ferramentas para uma maior participação nas práticas sócio-políticas da sua comunidade. Com isso, apresenta uma contribuição significativa para a formação dos alunos inseridos num contexto de vulnerabilidade social. Levantam-se, pois, reflexões sobre temas de importância ímpar como as relações do homem com o seu meio e, sobretudo com os seus pares, a fim de gerar compreensões sobre o papel de cada um e do coletivo na identificação das questões sociais que nos envolvem e na proposição de posicionamentos proativos no sentido de se transformar a realidade. |
METODOLOGIA: |
O projeto valeu-se de aulas expositivo-dialogadas, leituras diversas, debates, trabalhos de estudo em grupo, comunicações orais, promoção de gincana educativa “Escola limpa”, feira de conhecimentos, culminando com excursão didática ao zoológico. A sequência didática desenvolve-se em três etapas temáticas: “A minha comunidade e a escola que eu quero”; “Meio ambiente, nossa casa”; e “Pedestres e motoristas, parceiros no trânsito e na vida”. As etapas foram cada qual realizada em 40 horas aulas e, embora didaticamente separadas, unem-se em grandes linhas de interseção as quais paulatinamente são amarradas. Os alunos envolvidos são do 5º ano do Ensino Fundamental. Na turma, há 28 estudantes matriculados e 22 frequentando, nem sempre assiduamente. Suas idades variam de 10 a 15 anos. Apresentam dificuldades significativas quanto ao desenvolvimento de competências de oralidade e letramento. A escola apresenta Índice de Desenvolvimento da Educação Básica bem abaixo da média nacional. O período foi de agosto a dezembro de 2011. O projeto não contou com recursos financeiros extras: os materiais usados foram fornecidos pela própria escola como: papel A4, cartolina, hidrocor, lápis de colorir, cola, tesoura, jornais e revistas usados e ainda fotocópias de textos de apoio. |
RESULTADOS: |
Com o trabalho pedagógico, os alunos identificaram que a escola tem um papel importante para suas vidas: é um espaço onde se aprende, se brinca, se faz amizade e se alimenta. Contudo, possui grandes problemas: violência, falta de recursos materiais e humanos, e, sobretudo, muita sujeira gerada pelos próprios estudantes. Após leituras e debates, elaboraram cartazes de divulgação do tema para a comunidade escolar: a escola que eu tenho e a escola que eu quero construir. Firmaram o compromisso com a manutenção da limpeza e organização das salas de aula. Estudando o meio ambiente, conscientizaram-se de que a problemática do lixo vai além dos muros da escola e das ruas da comunidade, trata-se de uma questão social ampla. Produziram cartazes educativos, com foco na conscientização para limpeza da escola e da comunidade, para serem expostos: para alunos, professores, funcionários e familiares, e socializados de sala em sala com as demais turmas do turno da manhã. Com a repercussão da atividade, propusemos uma gincana com a escola culminando com a ida de todos ao zoo: campanha de limpeza na escola. Finalmente também trabalhamos “O trânsito em nossa comunidade” com notícias coletadas em jornais; depoimentos pessoais; conselhos para pedestres; mostra de composição de imagens. |
CONCLUSÃO: |
Norteado pela perspectiva do letramento, avaliamos que o projeto contribuiu para que os alunos pudessem conscientizar-se do seu papel na construção da sociedade. Com base em abordagens dos conteúdos escolares de forma contextualizada, observamos que os estudantes demonstraram aprendizagem significativa. Vislumbra-se assim a função social da escola no sentido explorar o conhecimento – refletir sobre o conhecer – agir com base no conhecer. Diante do quadro, o projeto vem a somar com a melhoria do processo de ensino-aprendizagem visto que integra no seu lastro atividades didáticas que desenvolvem as competências de leitura e produção de textos de variados gêneros associada à discussão de conteúdos de estudos sociais e ciências. Ressaltamos ainda que o saber construído envolve não apenas aspectos cognitivos dos estudantes, mais ainda ações sociais e interacionais. Nesse sentido, as palavras de Rubem Alves retratam a essência da nossa caminhada: "Enquanto a sociedade feliz não chega, que haja pelo menos fragmentos de futuro em que a alegria é servida como sacramento, para que as crianças aprendam que o mundo pode ser diferente. Que a escola, ela mesma, seja um fragmento do futuro..." |
Palavras-chave: Letramento Letramento, Interdisciplinaridade, Formação cidadã. |