64ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 15. Formação de Professores (Inicial e Contínua)
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE PROFESSORAS SOBRE AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM NO PROGRAMA SE LIGA DE CORREÇÃO DE FLUXO
Patrícia Irene dos Santos 1,2
1. Prefeitura da Cidade do Recife - PCR
2. Faculdade Frassinetti do Recife - FAFIRE
INTRODUÇÃO:
A avaliação da aprendizagem, como um componente do ato pedagógico, permite o diagnóstico da aprendizagem dos alunos de forma a orientar a tomada de decisão docente e a auxiliar o seu avanço e crescimento em busca da autonomia e competência para se constituir como sujeito histórico. Essa discussão toma uma amplitude maior quando se reporta a programas de correção de fluxo como o programa SE LIGA, do Instituto Ayrton Senna – IAS, adotado pela Rede Municipal de Ensino do Recife - RMER. Esse projeto tem como objetivo alfabetizar crianças com distorção idade/série dentro de um ano letivo. Este trabalho apresenta os resultados da investigação que desenvolvemos na Rede Municipal de Ensino do Recife - PE, cujo objetivo foi analisar as representações sociais de avaliação construídas por professoras do programa SE LIGA da RMER e suas implicações práticas. O aporte escolhido foi a Teoria das Representações Sociais – TRS (MOSCOVICI, 2003; JODELET, 2003) devido a sua especificidade nos estudos de fenômenos sociais que circulam e orientam as ações dos grupos. Trata-se de um estudo relevante, pois seus resultados suscitam a ampliação do debate acerca da avaliação da aprendizagem no sentido de intervir na realidade e possibilitar a transformação dos alunos e seus processos de aprendizagem.
METODOLOGIA:
Adotamos a abordagem qualitativa aliada à Teoria das Representações Sociais, de base psicossocial com enfoque dialético, por compreendermos que esta abordagem se propõe a abarcar o sistema de relações que constrói o modo de conhecimento exterior ao sujeito, mas também as representações sociais que traduzem o mundo dos significados (MINAYO, 2000). O campo empírico da nossa pesquisa foram escolas públicas que compõem a RMER - PE. Os participantes da pesquisa foram 10 professoras efetivas que atuam na rede no programa SE LIGA de correção de fluxo. Adotamos a entrevista semiestruturada como procedimento de coleta. Para a análise dos dados o recurso empregado foi a Análise de Conteúdo, considerando que essa técnica permite acessar as opiniões, crenças, informações, imagens e atitudes contidas nos discursos dos sujeitos (BARDIN, 2002), no nosso caso as representações sociais sobre o processo avaliativo e suas implicações para o processo de ensino e aprendizagem. O período de trabalho de campo ocorreu durante o curso de formação do programa e dos encontros quinzenais de planejamento no ano letivo de 2011.
RESULTADOS:
Salientamos que são vivenciadas avaliações internas, sendo três de português e de matemática, desenvolvidas pelo IAS e uma externa elaborada pela Fundação Carlos Chagas – FCC. As professoras declararam não participar da construção desses instrumentos, o que nos leva a refletir acerca da fragilidade dos instrumentos avaliativos do programa. As representações sociais das professoras sobre avaliação revelam um discurso conflituoso que permeiam aspectos entre a avaliação numa perspectiva tradicional e processual da aprendizagem. Os instrumentos citados demonstraram que as práticas avaliativas oscilam de acordo com a concepção de avaliação das professoras. Sendo assim, as provas, as atividades do livro e do caderno; a participação do aluno; e a observação de seu processo de ensino e de aprendizagem, inclusive do tempo para construção dessa aprendizagem foram ressaltados. A baixa autoestima dos alunos; falta de apoio da família; problemas específicos de comportamento e indisciplina são apontados pelas professoras como elementos que dificultam o processo de alfabetização no programa, no entanto, os momentos reservados para formação e planejamento; o compromisso assumido no sentido de superar a realidade de defasagem da aprendizagem são fundamentais para o bom andamento do programa.
CONCLUSÃO:
Concluímos que conforme apontam nossos achados, as representações sociais das professoras quanto à avaliação da aprendizagem implicam numa prática docente que se traduzem em discursos ambíguos e imprecisos, onde a prática avaliativa em alguns momentos vem sendo tratada ora como instrumento de verificação ora como parte integrante do processo de ensino e aprendizagem. Apesar dos discursos enfatizarem a valorização da reflexão, da crítica e do diálogo, as representações sociais de avaliação continuam centralizadas numa perspectiva avaliativa tradicional e seletiva, onde instrumentos são elaborados sem a participação dos envolvidos nos processos de ensino e aprendizagem. Compreendemos que a avaliação como um componente do ato pedagógico necessita investir no diagnóstico da realidade, possuir uma sistematização, ou seja, utilizar instrumentos adequados, com questões de linguagem clara e compreensível buscando envolver os vários níveis de dificuldade dos alunos. Os resultados da pesquisa são mais um alerta para as políticas públicas de modo que procurem resgatar nos processos de formação inicial e continuada os debates e reflexões acerca da prática avaliativa e suas implicações no processo de ensino e aprendizagem.
Palavras-chave: Representações Sociais, Professor, Avaliação da Aprendizagem.