64ª Reunião Anual da SBPC |
G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 2. Práticas Clínicas, Identidade e Relações de Gênero |
VIOLÊNCIA DE GÊNERO: ANÁLISE CRÍTICA DA CONCEPÇÃO DE ENSINO CRIACIONISTA |
Sueli Almeida Chaves 1 Vicente Augusto Aquino de Figueiredo 2 |
1. Depto. de Ciências Humanas, Universidade Nove de Julho - UNINOVE 2. Prof. Dr./ Orientador – Depto. de Ciências Humanas - UNINOVE |
INTRODUÇÃO: |
Esse estudo analisa e descreve como são legitimadas as desigualdades de gênero nos materiais didáticos de ciências do Ensino Fundamental, que apresenta a dicotomia entre masculino e feminino como um dado natural, fixando os sujeitos em identidades. O gênero abordado segundo a lei natural de criação justifica a dicotomia existente no determinismo biológico caracterizando nessa perspectiva a violência de gênero ao impor como norma as identidades de gênero que reproduzem relações hierárquicas entre o masculino e o feminino, perpetuando as desigualdades sociais constituídas no patriarcado. A escola e seu papel sociopolítico que visa educar para a cidadania, é responsável em promover a socialização científica, auxiliando no desenvolvimento crítico e autônomo de seus/suas alunos/as. Proporcionar o diálogo responsável dos/as educandos/as com os processos socioculturais que sustentam relações desiguais permite que se contextualize a realidade de seu meio social para que possam construí-lo e reconstruí-lo a favor do respeito mútuo e da equidade de gênero. Incluir as múltiplas formas de vivenciar a feminilidade e masculinidade garante o respeito à diversidade, e contribui com a construção de uma sociedade democrática e igualitária. |
METODOLOGIA: |
A metodologia utilizada recorreu às análises de materiais e livros didáticos de ciências, bem como propostas, planos, projetos e livros pedagógicos, a partir da perspectiva dos estudos de gênero. Buscou-se detectar e descrever como as representações hierárquicas de gênero constituídas no patriarcado, são legitimadas e perpetuadas como matriz dominante de gênero, caracterizando a manifestação da violência de gênero no contexto escolar. Esse trabalho realizado em forma de pesquisa qualitativa analisou instituições públicas e privadas direcionadas a educação do 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental, visando discutir como são abordadas as questões de gênero na educação a partir das análises feitas nos materiais e livros didáticos de ciências. As análises executadas nos planos, projetos, propostas e livros pedagógicos visaram evidenciar o posicionamento das instituições educacionais estudadas no tocante a formação cidadã de seus/suas educandos/as, bem como o comprometimento e a responsabilidade na socialização do conhecimento científico nos conteúdos educativos trabalhados. |
RESULTADOS: |
As análises dos materiais didáticos de ciências sinalizam o corpo naturalizado pela matriz heterossexual, monogâmica e, por conseguinte, normalizado na matriz dominante de gênero. Os conteúdos analisados abordam o sistema genital masculino e feminino como órgãos naturalmente reprodutores, e a partir dessa perspectiva os sujeitos são normalizados nas identidades binárias de gênero: o feminino é naturalizado pela maternidade e legitimado nos aspectos que permeiam o cuidado com a prole; enquanto o masculino isenta-se das responsabilidades e associações com a paternidade. Segundo essas observações o binarismo e as relações hierárquicas de gênero são justificados pelo determinismo biológico (isto é, as funções impostas que legitimam o masculino e o feminino são justificadas segundo a lei natural de criação). Os conteúdos didáticos pesquisados evidenciam a violência de gênero ao impor as representações ideológicas que reproduzem e perpetuam as relações desiguais entre homens e mulheres como formas legítimas e universais dos sujeitos se relacionarem na sociedade – ou seja, a dicotomia entre o masculino e o feminino é naturalizada nos conteúdos educativos estudados legitimando como norma a dominação/exploração de gênero originária do patriarcado. |
CONCLUSÃO: |
As identidades de gênero apresentadas nos materiais didáticos estudados são abordadas como fixas, legitimando as ações e funções dos sujeitos de acordo com os atributos da matriz dominante de gênero. A reprodução humana na fase adulta é apresentada como norma (e não como opção), legitimando a maternidade e o cuidado com as gerações imaturas como função feminina. As identidades de gênero apontadas nos conteúdos didáticos reproduzem as desigualdades entre o masculino e o feminino perpetuando a relação dominação/exploração característica do patriarcado, manifestando a violência de gênero. A concepção criacionista de educação presente no material analisado permite perceber a existência de uma simbiose entre este tipo de educação e o patriarcado – ou seja, ao fornecer uma visão binária, dicotômica e naturalizada do gênero reforça a relação desigual e hierárquica entre o masculino e o feminino, ao mesmo tempo em que o próprio patriarcado legitima a visão religiosa do mundo. |
Palavras-chave: Gênero, Violência de Gênero, Patriarcado. |