64ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 14. Zoologia - 6. Zoologia
Uso da Bioacústica como ferramenta para identificação de morcegos insetívoros no cerrado
Roxanne Cassiano Silva 1
Ludmilla Moura de Souza Aguiar 2
1. Instituto de Biologia, Departamento de Zoologia, Laboratório de Mamíferos, Universidade de Brasília- UnB
2. Professora Doutora/ Orientadora – Instituto de Biologia, Departamento de Zoologia, Laboratório de Mamíferos, Universidade de Brasília - UnB
INTRODUÇÃO:
Dentre os mamíferos, a ordem dos morcegos é a segunda mais diversa em espécies. Por possuírem várias adaptações morfológicas e fisiológicas nos sistemas motores e sensoriais, os morcegos são muitos em habitats tropicais onde aproveitam ampla variedade de recursos. Um dos fatores mais importantes para essa irradiação é o seu avançado sistema de ecolocalização. O uso da bioacústica proporciona o estudo da vocalização desses animais que serve não apenas para a alimentação e comunicação entre os mesmos, mas também para sua navegação. Por meio da vocalização é possível, por exemplo, o estudo dos morcegos insetívoros que, por voarem alto, são pouco capturados e pouco conhecidos. Assim sendo, o objetivo desse trabalho é começar um banco de dados de sons para os morcegos do Cerrado, para que seja possível identificar os morcegos insetívoros até o nível de espécies sem a necessidade da manipulação ou coleta de partes do animal para a sua identificação.
METODOLOGIA:
Os sons dos morcegos foram gravados de forma ativa com gravador acoplado ao aparelho Pettersson D240X por seis dias consecutivos por mês, em três áreas de cerrado senso stricto no Parque Nacional de Brasília (PNB) e em três áreas de plantios no entorno da UC. O programa utilizado para as análises foi o AVISOFT SASLAB PRO. Para cada arquivo, foram separados os sonogramas da fase de navegação para a medição dos seguintes parâmetros: frequência inicial e final do pulso, tempo de duração do pulso e o tempo do intervalo entre pulsos; número de harmônicos emitidos e qual harmônico mais forte. Todos esses dados foram computados em uma tabela e comparados entre si. Depois, foram calculadas as médias, e as medidas comparadas com dados encontrados na literatura. Para a biblioteca impressa de som, um pulso e uma série de pulsos de navegação de cada morcego analisado foram selecionados. A componente do pulso (CF, QCF, FM) é marcada em um pulso modelo e os outros parâmetros são descritos.
RESULTADOS:
Do total de gravações, 40 arquivos foram viáveis para análise, sendo que em cada arquivo havia somente um passe. Treze passes pertencentes à plantação, e 27 ao PNB. Três famílias foram encontradas em ambas as áreas: Embanulloridae, Vespertilionidae e Molossidae. Apenas para as duas últimas chegou-se ao gênero de 20 indivíduos, e dentro deles foi feita uma separação inicial de pelo menos 16 espécies. Os gêneros de Molossidae catalogados foram: Cynomops, Eumops e Molossus. Na família Vespertilionidae registrou-se dois gêneros: Lasiurus e Myotis. As chamadas dos morcegos podem ser muito flexíveis, e isso pode decorrer de fatores ambientais, comportamentais e fisiológicos. Esses fatores podem gerar chamadas parecidas mesmo em espécies diferentes, pois condições ecológicas semelhantes levam a adaptações semelhantes, e assim as chamadas de morcegos distintos podem ser parecidas, o que dificulta a análise e classificação. Porém, cada família carrega consigo algumas características únicas, por exemplo, Molossidae tem chamadas do tipo QCF e seu primeiro harmônico é o com maior intensidade, ao passo que Vespertilionidae possui chamada do tipo FM no início, com maior intensidade no primeiro harmônico. Já os Embanulloridae, possuem o segundo harmônico mais forte e chamadas do tipo QCF.
CONCLUSÃO:
Por voarem muito alto, os morcegos insetívoros são pouco capturados em redes de neblina e passam despercebidos em avaliações feitas com o uso dessa técnica. Por outro lado os mesmos emitem sons intensos que são capturados por aparelhos e assim possibilitam verificar sua atividade e identificação em nível de espécie. A Bioacústica é a técnica que permite esse estudo e é de uso recente no Brasil justificada talvez por seu alto custo, por isso estudos com essa metodologia ainda são raros. Este trabalho é um dos pioneiros em usar essa ferramenta para a identificação de morcegos insetívoros no Cerrado. Apesar de muitos dados ainda não identificados, esse estudo mostrou-se extremamente promissor, sendo possível identificar morcegos do Cerrado por meio de suas vocalizações, e assim formar uma base de dados capaz de contribuir para melhor entendimento de comunidades de morcegos tanto em unidade de conservação, como nas regiões de entorno.
Palavras-chave: Cerrado, Ecolocalização, Morcegos.