64ª Reunião Anual da SBPC
A. Ciências Exatas e da Terra - 6. Geociências - 10. Geociências
ELABORAÇÃO DE DIAGNÓSTICO PARTICIPATIVO COMO SUBSÍDIO AO MANEJO DE RECURSOS NATURAIS NA COMUNIDADE DE MENINO DEUS DE ESPERANÇA II - COARI/AM
Tatiana de Sá Freire Ferreira 1
Denise Maria da Penna Kronemberger Dantas 2
1. Programa de Pós-Graduação em Geografia - UFRJ
2. Profa. Dra./Orientadora. Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE
INTRODUÇÃO:
O presente trabalho traz a temática da participação comunitária como uma realidade possível. Qualquer grupo organizado sob um objetivo comum pode usufruir de ferramentas participativas para tomar decisões, entre outras atividades. A descoberta de petróleo e gás no estado do Amazonas, na década de 80 do séc. XX, produz alterações nas territorialidades de diferentes atores sociais nas margens do rio Solimões, especialmente no modo de vida da população tradicional ribeirinha do trecho Coari-Manaus.
O objetivo geral deste trabalho é elaborar um diagnóstico participativo do manejo de recursos naturais na comunidade Menino Deus de Esperança II, Coari, Amazonas. Os objetivos específicos são: construir com a comunidade um mapa participativo dos recursos naturais e uso da terra; realizar uma caminhada de reconhecimento, com moradores, para elaborar um transecto que inclua as diferentes áreas da zona de influência da comunidade, com seus diferentes usos, problemas associados e potenciais de desenvolvimento.
A relevância do trabalho está no exercício de tornar concretos os registros criados pelos moradores e na capacitação do grupo para documentação e registro dos aspectos socioambientais que poderão subsidiar discussões de alternativas para o desenvolvimento local.
METODOLOGIA:
A pesquisa é composta por uma contextualização da área de estudo, que inclui breve histórico da atuação da Petrobras na região, aspectos físico-bióticos do município de Coari e aspectos socioeconômicos da comunidade de Menino Deus de Esperança II. O referencial teórico é pautado na temática da participação cidadã e das metodologias participativas, onde se busca uma compreensão de conceitos como os níveis de participação, a escada de participação, a utilização de ferramentas participativas no processo de desenvolvimento e mapeamento participativo. A pesquisa de campo foi realizada em abril de 2010 para averiguação direta das proposições metodológicas. Foi composta pela realização de oficinas com os grupos de moradores que resultaram em um mapa de recursos naturais e uso do solo, uma caminhada de reconhecimento do terreno e na sistematização das informações em um “diagrama de corte” ou “transecto”. Por se tratar de uma pesquisa voltada para a valorização do caboclo ribeirinho como sujeito e de uma experiência de visibilidade de sua territorialidade, os termos regionais como ajuri e banzeiro, por exemplo, foram preservados e sua forma original e seu significado podem ser encontrados no item glossário de termos regionais.
RESULTADOS:
Para dar início à confecção do mapa de uso do solo, foi explicado o interesse em estudar o território do grupo social de Esperança II e citada a vizinhança direta com o TESOL e o fato deste empreendimento ocupar a terra em que eles vivem há mais de 80 anos. Os registros feitos sob forma de listas, desenhos, mapas e diagramas possibilitaram a apreciação da informação por parte de todos os atores envolvidos, independentemente da escolaridade das pessoas, já que palavras e desenhos foram feitos com expressões próprias e legítimas. Os participantes optaram por se dividir em grupos por faixa etária e gênero: homens, mulheres e jovens, por entender que as espacialidades de cada grupo são diferentes.
As ferramentas metodológicas pretendem mostrar para outras pessoas os problemas e as potencialidades do espaço, através de um planejamento de ações que utilize dados levantados pelo grupo. Foi explicada a dinâmica de construção do diagrama do terreno com seus compartimentos topográficos e diferentes usos e problemas associados ao uso dos recursos naturais. Foi esclarecido que os mapas desenhados ficariam com eles e que seriam enviadas cópias dos arquivos de áudio, das fotografias e pretende ser de uso contínuo da comunidade
CONCLUSÃO:
A aplicação de metodologias participativas torna-se um tema fascinante quando se trabalha com minorias que normalmente não têm suas necessidades básicas atendidas, nem acesso aos meios legais para lutar por seus direitos humanos básicos, e acesso às redes de comunicação social para expor suas ideias e anseios coletivos. Esse tipo de trabalho experimental busca atender a um grupo social específico no exercício de sua aplicabilidade e, ao mesmo tempo, vislumbra a possibilidade de replicação dos métodos testados em outros grupos minoritários, que possuam o desejo de se tornarem visíveis enquanto sujeitos no planejamento e na gestão do território.
As oficinas de mapas mentais foram uma experiência profícua no que tange a representação espacial das vivências articulares dos indivíduos, quando discutidas entre si. As conversas realizadas entre os participantes durante os desenhos dos mapas fortaleceram o sentido de território na comunidade e também fortaleceu a identidade territorial da população tradicional ribeirinha, pois pode ser notado o compromisso com a manutenção da floresta “em pé” e da conservação da qualidade dos recursos naturais. Para a continuidade desta pesquisa cabe registrar a necessidade de aplicação destas metodologias com um número maior de pessoas e de famílias.
Palavras-chave: diagnóstico participativo, recursos naturais, população tradicional ribeirinha.