64ª Reunião Anual da SBPC
F. Ciências Sociais Aplicadas - 13. Serviço Social - 7. Serviço Social
O VENENO É A MINHA ENXADA: o uso de agrotóxicos na produção de alimentos para o Programa PAA
Mauro João Porto 1
Dalva Felipe de Oliveira 1
1. Centro Universitário Luterano de Ji-Paraná – CEULJI/ULBRA- Curso de Serviço Social
2. Orientadora
INTRODUÇÃO:
O Brasil se tornou no ano de 2010 o campeão mundial em consumo de agrotóxicos. São mais de um bilhão de litros despejados anualmente nos cultivos e pastagens. Esta situação já vinha causando preocupação e mobilização dos movimentos ambientais, de setores dos movimentos sociais e de saúde. Apesar do acesso às informações sobre os perigos da utilização dos agrotóxicos; dos alertas quanto aos riscos para a saúde dos trabalhadores e consumidores; do surgimento e desenvolvimento de técnicas alternativas de cultivos sem o uso desses agroquímicos, a utilização dos mesmos continua aumentando a cada ano. Após gerações de camponeses fazendo uso destes produtos e com a conseqüente perda das referências tradicionais de manejo, a questão que se coloca é: como produzir sem agrotóxicos? Os objetivos desta pesquisa foram: a) analisar os motivos que impulsionaram os camponeses do Projeto de Assentamento Chico Mendes III – PACM-III, inseridos no Programa de Aquisição de Alimentos – PAA - na modalidade Compra Direta Local da Agricultura Familiar – CDLAF - no município de Presidente Médici, a usarem agrotóxicos na produção de alimentos para o referido programa; b) verificar os agrotóxicos utilizados nas plantações e as respectivas técnicas de manejos.
METODOLOGIA:
O local escolhido para a coleta dos dados foi a Agrovila 7, do PACM-III, localizado na 7ª Linha, Gleba 03, município de Presidente Médici/RO. O público direto desta pesquisa foram onze famílias de camponeses que estão inseridos no Programa que, neste município, é operacionalizado pela Associação de Assistência Técnica Rural de Rondônia – EMATER-RO. Para a coleta de dados fez-se a opção pelas seguintes técnicas: entrevista semi-estruturada, observação participante, pesquisa documental (Diário Oficial PACM-III, mapa da localização dos lotes, Diário Oficial da União com o Decreto de criação, notas do produtor rural, as atas das reuniões entre outros) e Diário de Campo.
RESULTADOS:
De acordo com os dados coletados verificou-se que dez das onze famílias de camponeses utilizam algum tipo de agrotóxico. Entre os agrotóxicos mais utilizados estão os herbicidas e os inseticidas. Os herbicidas mais utilizados são o Roundoup e o Gramocil, este é apontado por dez famílias como o responsável pelo controle do “mato” em geral, seguido pelo Roundoup. A quantidade utilizada, bem como o espaço/terreno em que são utilizados os herbicidas varia muito entre os camponeses. Há casos em que os mesmos são utilizados apenas em beiras de estradas, carreadores e na “roça”. Quanto aos inseticidas, aparecem como sendo responsáveis pelo controle das pragas de maior ocorrência tais como: lagartas, pulgão e outros insetos que “comem” ou cortam as hortaliças. Entre as famílias entrevistadas, sete fazem uso dos inseticidas, dos quais se destacam: o Decis (com duas ocorrências), o Folidol, o Lorsban, o Barrage - produto de controle de mosca de chifre do gado - (com duas ocorrências), e o Cyptrin. Sobre a indicação e o modo de utilização do agrotóxico, todos responderam que o fazem por “conta própria”, pela “experiência” ou como de “costume”. Todos os camponeses que utilizam agrotóxicos não utilizam os Equipamentos de Proteção completos.
CONCLUSÃO:
Os camponeses necessitam e buscam avidamente formas e meios disponíveis, “práticos” e “eficazes” para resolução dos problemas encontrados nas lavouras, independente se, futuramente, esses meios possam ou não causar maiores problemas. Para eles é impossível produzir qualquer “coisa" sem utilizar as técnicas convencionais haja vista a “dependência técnica-cultural” dos agrotóxicos. O processo de conversão para uma agricultura sem o uso de agrotóxico demonstra-se ser um enorme desafio, uma vez que é demorado. Diante das informações colhidas percebeu-se que a utilização dos agrotóxicos na produção colidia com os propósitos do PAA, qual seja garantir soberania alimentar e nutricional. Tais situações ensejam a necessidade de um acompanhamento mais qualificado dos camponeses por parte dos órgãos de assistência técnica, capaz de construir coletivamente, com base no acúmulo da agroecologia, respostas e soluções para os problemas relacionados à produção camponesa. E que essas ações sejam norteadas pela produção livre de insumos químicos o que, além de reduzir os custos da produção, criaria condições sociais e ambientais para as futuras gerações de camponeses e para a qualidade da alimentação dos beneficiários consumidores do PAA/CDLAF.
Palavras-chave: Agrotóxico, Camponês, Segurança alimentar.