64ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 5. História - 11. História
A EVOLUÇÃO FEITA DE FERRO
Julia de Paula Romano 1
Kelly Carvalho 2
1. Curso Médio Profissionalizante de Geomática - Colégio Técnico de Limeira - UNICAMP
2. Prof. Mestre/Orientadora - Depto de Humanas - Colégio Técnico de Limeira - UNICAMP
INTRODUÇÃO:
A Estação Ferroviária de Campinas fazia parte da linha férrea Jundiaí-Campinas e foi o primeiro desafio da Companhia Paulista de estradas de Ferro, FEPASA. A FEPASA surgiu quando os investimentos ingleses, que eram as grandes locomotivas do sistema ferroviário, se tornaram escassos e os barões de café viram neste sistema grandes vantagens e criaram a Companhia Paulista de Estrada de Ferro.
Os trens não transportavam apenas café, mas outras mercadorias e pessoas também. Nas ruas próximas às estações ferroviárias apresentaram maior concentração de estabelecimentos comerciais como, por exemplos, farmácias, lojas de roupa e até consultórios médicos, dinamizando a vida dos passageiros que desciam na estação ferroviária e não precisavam andar muitos metros para compras ou outras necessidades.
Não foi só o comércio local que foi ampliado com a instalação da linha férrea houve um grande número de empregos formados. Nas proximidades para que os empregados da estação de trem tivessem fácil acesso ao trabalho foram construídas algumas casas próximas à estação ferroviária. Esta é a origem da Vila Industrial, o primeiro bairro operário da cidade de Campinas, localizado na área paralela ao pátio de manobras da estação e ainda hoje tem moradores trabalhadores que relacionados à Companhia.
METODOLOGIA:
A metodologia de trabalho foi diversificada. Em primeiro lugar foram feitas entrevista com os moradores mais antigos da Vila, o objetivo fora identificar se a origem deles no bairro, de fato, estava relacionada com a hipótese original do projeto, que era de que ainda hoje os habitantes do bairro são remanescentes de operários da ferrovia ou de fato ainda são funcionários da ferrovia, constituindo, portanto, a vocação operária da Vila Industrial. Isto é, o primeiro passo do trabalho fora um resgate de memória e história oral com a comunidade da Vila.
Segunda fase foi de pesquisa histórica e arquivística. O levantamento de fontes, no arquivo histórico Palácio dos Azulejos e na Biblioteca Municipal, relacionada à origem do bairro Vila Industrial assim como de fotos antigas do bairro e pesquisa em periódicos local sobre o tema.
Na terceira fase da pesquisa trabalhamos com a análise arquitetônica do bairro, confrontando a arquitetura, ainda hoje bastante preservada e que forma um conjunto arquitetônico coeso, com as origens operárias do mesmo. Trabalhamos com o conceito de preservação arquitetônica e tentamos entender quais foram os motivos que propiciaram esta perfeita preservação do patrimônio histórico operário de Campinas.
RESULTADOS:
Nas proximidades da estação ferroviária da Companhia Paulista de Estradas de Ferro para que os empregados da estação de trem tivessem fácil acesso ao trabalho foram construídas, pela Companhia, algumas casas próximas à estação ferroviária.
O bairro começou com 25 casas construídas pela própria FEPASA e distribuídas aos seus funcionários, ao longo do desenvolvimento econômico cafeeiro da cidade de Campinas e consequente desenvolvimento da ferrovia, houve uma demanda maior de operários assim como um aumento significativo de casas construídas, agora não mais pela ferrovia, mas pelos próprios funcionários.
Com a decadência do transporte ferroviário e a implantação do transporte rodoviário, houve o empobrecimento e a decadência do bairro. É possível notar que até hoje a maioria das casas tem a arquitetura característica do inicio do século XX de casas geminadas, isto é, grudadas umas nas outras, com a porta e a janela da sala voltada para a calçada com ruas de paralelepípedos.
Vila industrial nos dias de hoje mantém a arquitetura original com raras intervenções no estilo da arquitetura operária, permanecem no bairro funcionários aposentados que representam a memória de um tempo histórico que trouxe enriquecimento econômico e cultural para nossa região.
CONCLUSÃO:
A decadência do transporte ferroviário e a implantação do transporte rodoviário trouxeram o empobrecimento e a decadência do bairro operário Vila Industrial. Trabalhadores outrora valorizados ficaram à margem da sociedade campineira o que é facilmente observável através da estagnação que ocorreu com a arquitetura do bairro. O bairro não foi meramente preservado para destacar suas características históricas, arquitetônicas e a memória da sua população, ele foi congelado no tempo por causa do empobrecimento e da desvalorização do operário do transporte ferroviário.
Com a estagnação do bairro a rota de transmigração populacional sofreu alteração dos pontos de passagem dos passageiros para outras regiões da cidade que foi polarizada para a rodoviária, novo eixo de mobilidade das pessoas.
Um novo ciclo de valorização do bairro Vila Industrial esta começando e, não como memória e registro do período áureo da Companhia de Ferro da FEPASA e do desenvolvimento econômico de Campinas e do estado de São Paulo. Concomitante com a valorização do bairro como valor de mercado há um lento e progressivo movimento de exclusão dos antigos moradores e dos descendentes destes por um novo enriquecimento que é extrínseco ao bairro, que tem sua origem meramente na especulação do mercado.
Palavras-chave: Patrimônio Histórico, Arquitetura, Cidadania.